sexta-feira, 16 de maio de 2008

Dia das Letras

Desgraçadamente, a Plataforma Coimbra-Galiza nom pode ir para diante com nengumha actividade comemorativa do Dia das letras galegas. O espectáculo que tinhamos preparado a medias com o Ateneu de Coimbra (umha primeira parte de representaçom de cantigas medievais e um recital de poesia galega com vozes de diversas partes do mundo) foi adiado por causas logísticas alheias as nosas intençons... Mas, desde o meu blogue persoal/vozeiro oficial da plataforma nom podo deixar de postear.

Pode que estejamos ante o Dia das Letras mais polémico, debido a apariçom deste grupo de persoas que nom vem motivo para deixarem de ter eses privilegios tradicionais que faciam a vida tam cómoda. (E espero que esta seja a única mençom a tais indivídu@s no blogue).

Nom quero ser sensibleiro nestas datas, nada mais longe da minha intençom, mas a lingua é o mais importante que temos. Escrebamos com ç, nh, ñ... falemos com gheada, com seseio explosivo predorsal ou com rotacismo, estamos tod@s no mesmo barco. O lobo está aí, já lhe conhecíamos as orelhas, agora vemos o fucinho também.

Na rua, na casa, na universidade, com familiares,amig@s, desconhecid@s de copos, jogando, trabalhando, dicindo porcalhadas, domando pulgas... FALA!

E aproveitando que últimamente estou a apanhar gosto ao surrealismo tuga:


YOU ARE WELCOME TO ELSINORE


Entre nós e as palavras há metal fundente

entre nós e as palavras há hélices que andam

e podem dar-nos morte violar-nos tirar

do mais fundo de nós o mais útil segredo

entre nós e as palavras há perfis ardentes

espaços cheios de gente de costas

altas flores venenosas portas por abrir

e escadas e ponteiros e crianças sentadas

à espera do seu tempo e do seu precipício


Ao longo da muralha que habitamos

há palavras de vida há palavras de morte

há palavras imensas, que esperam por nós

e outras, frágeis, que deixaram de esperar

há palavras acesas como barcos

e há palavras homens, palavras que guardam

o seu segredo e a sua posição


Entre nós e as palavras, surdamente,

as mãos e as paredes de Elsinore


E há palavras noturnas palavras gemidos

palavras que nos sobem ilegíveis à boca

palavras diamantes palavras nunca escritas

palavras impossíveis de escrever

por não termos connosco cordas de violinos

nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar

e os braços dos amantes escrevem muito algo

muito além do azul onde oxidados morrem

palavras maternais só sombra só soluço

só espasmos só amor só solidão desfeita


Entre nós e as palavras, os emparedados

e entre nós e as palavras, o nosso dever falar.

(Mario Cesariny)

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