Desgraçadamente, a Plataforma Coimbra-Galiza nom pode ir para diante com nengumha actividade comemorativa do Dia das letras galegas. O espectáculo que tinhamos preparado a medias com o Ateneu de Coimbra (umha primeira parte de representaçom de cantigas medievais e um recital de poesia galega com vozes de diversas partes do mundo) foi adiado por causas logísticas alheias as nosas intençons... Mas, desde o meu blogue persoal/vozeiro oficial da plataforma nom podo deixar de postear.
Pode que estejamos ante o Dia das Letras mais polémico, debido a apariçom deste grupo de persoas que nom vem motivo para deixarem de ter eses privilegios tradicionais que faciam a vida tam cómoda. (E espero que esta seja a única mençom a tais indivídu@s no blogue).
Nom quero ser sensibleiro nestas datas, nada mais longe da minha intençom, mas a lingua é o mais importante que temos. Escrebamos com ç, nh, ñ... falemos com gheada, com seseio explosivo predorsal ou com rotacismo, estamos tod@s no mesmo barco. O lobo está aí, já lhe conhecíamos as orelhas, agora vemos o fucinho também.
Na rua, na casa, na universidade, com familiares,amig@s, desconhecid@s de copos, jogando, trabalhando, dicindo porcalhadas, domando pulgas... FALA!
E aproveitando que últimamente estou a apanhar gosto ao surrealismo tuga:
YOU ARE WELCOME TO ELSINORE
Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício
Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição
Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsinore
E há palavras noturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito algo
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmos só amor só solidão desfeita
Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar.
(Mario Cesariny)
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